sábado, noviembre 13, 2010

Brasil descumpre metas de saúde bucal

Brasil descumpre metas de saúde bucal


O Brasil cumpriu apenas uma das cinco metas da OMS (Organização Mundial da Saúde) relacionadas a cárie e perda dentária. Mesmo o único resultado positivo, alcançado na idade de 12 anos, é precário, pois os desempenhos foram desiguais nesta população.
Mais de 80% da população adulta não tem as gengivas sadias e 13% dos adolescentes nunca foram ao dentista.
O resultado negativo, revelado pelo projeto Saúde Bucal Brasil, estará em discussão a partir desta quinta-feira, na 3ª Conferência de Saúde Bucal, em Brasília. Mais de 1.000 delegados participarão do evento nacional.
A pesquisa foi realizada por meio de avaliações odontológicas em 108.921 brasileiros, de bebês (18 a 36 meses) a idosos (65 a 74 anos), de maio de 2002 a outubro do ano passado --a amostra foi calculada para representar a situação do país.
Segundo o Ministério da Saúde, trata-se do principal levantamento nacional do setor. As faixas etárias referenciais para a pesquisa foram definidas a partir de orientações da OMS.
Os dados mostram que, quanto mais se avança nas faixas etárias, piores os resultados. A OMS esperava encontrar, em 2000, 50% das pessoas da faixa etária de 65 a 74 anos com 20 ou mais dentes na boca. O país alcançou o percentual de apenas 10,23%.
Segundo o relatório, o país só atingiu a meta na idade de 12 anos, de índice CPO (de dentes careados, perdidos e obturados) menor ou igual a 3 --o resultado alcançado foi de 2,78--, principalmente por causa do desempenho das crianças do Sul e Sudeste.
"Embora as crianças de 12 anos apresentem valores (...) semelhantes aos recomendados pela OMS para o ano de 2000, é relevante sublinhar a ampla variabilidade da distribuição de valores", diz o relatório. Na região Nordeste, o índice foi de 3,19.
Diz o levantamento que há no país 30 milhões de desdentados --dado que foi apresentado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em março, no lançamento do programa Brasil Sorridente, e depois corroborado por pesquisa da OMS sobre as condições de saúde divulgada em maio. O governo promete investir R$ 1,3 bilhão em saúde bucal até 2006 --entre as ações está a distribuição de kits de higiene e dentaduras. Além disso, houve aumento de 49% do número de equipes de saúde bucal no Programa Saúde da Família. A última conferência sobre saúde bucal foi realizada há dez anos, quando o SUS (Sistema Único de Saúde) ainda engatinhava, e propôs um novo modelo odontológico que seguisse os princípios do sistema, de universalidade e integralidade das ações assistenciais.
Os dados do Saúde Bucal Brasil e o documento-base da conferência deste ano mostram que as linhas mestras do evento de 1993 continuam sendo perseguidas.
O próprio nome da pesquisa salienta as dificuldades por que o setor passa. Originalmente, chamava-se SB 2000, ano para o qual foram definidas as metas da OMS. Mas dificuldades operacionais fizeram com que só fosse entregue neste ano pelo governo.
"É necessário aproximar a saúde bucal dos princípios da integralidade e da universalidade", afirma Gyselle Saddi Tannous, representante de usuários no Conselho Nacional de Saúde e relatora-adjunta desta 3ª conferência.
Tannous também reconhece que o controle social na área é inadequado. Há movimentos organizados para reivindicar assistência adequada para diversos problemas de saúde, mas não há um movimento de desdentados. "Parece que há uma cisão, que a odontologia é alguma coisa especializada."
Além do controle social, a conferência irá debater formação e trabalho no setor, educação e financiamento.
O conselho queria que o Brasil Sorridente fosse lançado após o encontro, depois de definidas as diretrizes. Segundo Tannous, a principal crítica é em relação ao fato de ele ser baseado em campanhas de distribuição de itens.
"Pela primeira vez o governo destinou um recurso específico para a odontologia", defende Miguel Nobre, presidente do Conselho Federal de Odontologia.
Segundo Nobre, que coordenará o eixo sobre trabalho, não faltam dentistas no país --1 para cada grupo de 1.500 pessoas, quando o preconizado pela OMS é 1 para 1.000--, mas é preciso melhorar sua formação e distribuição.
Folha de São Paulo

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